[Deixa]
Cecille não sabe onde nasceu. Foi criada em New Orleans. Tem quatro anos em sua primeira lembrança. Está atrás do palco, hipnotizada por uma cantora que canta I’ll be around. Foi quando começou a imitar os tics, timbres e trejeitos de todas que caiam naquele lugar.
Nas tardes de cura-ressaca, cinco vezes por semana, a mãe gostava de exibir Cil para as vizinhas. A fazia imitar todas as atrações do último mês. Em ordem cronológica! Fechava colocando na vitrola o último lançamento. Cil amava quando era Nina Simone. Porque não precisava fazer muita força para copiar. Detestava quando pintava Ella ou Billie.
Desde os quinze, quando conseguiu ver Acossado (A bout de souffle, Godard, 1960), Cecille usa o cabelo curtinho como o de Jean Seberg. Com a pele morena e olhos esmeralda, destaca-se até no escuro. Tem quem olhe duas ou quatro vezes para confirmar o sexo. Cil só usa calças e camisetas bem largas.
A mãe era o único vínculo de Cil com o Sul dos EUA. Três dias depois do enterro, Cil estava de partida para NYC. Foi de ônibus, torrando metade das economias. Foi sozinha, deixando amigas e amantes desoladas/os.
Um ano depois, em 1968, foi parar em Londres. Não sabe como nem com quem. Desconfia que o último empurrão veio de uma mina que lhe prometeu apresentar Hendrix. Mantinha o cabelo curto e o talento para arrebentar corações por onde passava.
[continua]