Começa pequenininho. Com um simples comentário. Fofoqueiro, eu? No telefone sem fio vira outra coisa. “Eu aumento mas não invento”. Aumentamos. Inventamos. A história fica mais interessante. Ganha mais interessados. Atrai interesseiros. “Não sei, só sei que foi assim!”
O efeito de rede só foi descrito recentemente. A Lei de Metcalfe é coisa de telecomunicações e internet. Mas o fenômeno da espalhada exponencial de qualquer assunto – particularmente dos mexericos e picuinhas – está com a gente desde que começamos a grunhir e balbuciar. Yuval Harari, no excelente Sapiens (L&PM, 2015), diz que “nossa linguagem evoluiu como uma forma de fofoca”. Segundo ele, até os macacos “mostram um ávido interesse por tais informações sociais, mas ele têm dificuldade para fofocar de fato”. Nós não.
Às vezes, não há um pingo de maldade. Se faltam pingos nos is, nunca é nossa culpa: “Tô vendendo o peixe como eu comprei”.
De quando em quando, há segundas e quartas intenções. De quem? E quem vai saber? E quem quer saber?
O Veneno da Madrugada (Gabriel García Márquez, 1956) é um pasquim colado em local público de um vilarejo. Maledicências aleatórias que mudam a vida de todo o povoado.
A Sombra do Pavor (Le Corbeau – Henri-Georges Clouzot, 1943) é feita de cartas anônimas que começam mirando um médico e acabam acertando todo um vilarejo da França ocupada. Mas poderia ser de qualquer lugar, como alerta o texto introdutório.
Cartas e cartazes viraram entradas em timelines e mensagens instantâneas nos whatsapps da vida. Em qualquer lugar. Em todos os lugares.
Somos os mesmos fofoqueiros de sempre. O que mudou foi a velocidade e o alcance de nossos mexericos, picuinhas e fake news.
